Tributo a Pepe Mujica: o pensador que viveu o que disse

Há homens que ocupam cargos de poder. E há aqueles raros que ocupam, com dignidade, a alma do tempo que vivem. José “Pepe” Mujica foi um desses.

PEPE MUJICA

LISDEILI NOBRE

5/14/20252 min read

Há homens que ocupam cargos de poder. E há aqueles raros que ocupam, com dignidade, a alma do tempo que vivem. José “Pepe” Mujica foi um desses.

Foi preso três vezes. Guerrilheiro, torturado barbaramente em calabouços onde o tempo não passava e a dignidade era desafiada a cada minuto. Sobreviveu ao fogo dos que tentaram calá-lo com balas. E mesmo quando tudo parecia perdido, foi anistiado, libertado… e recomeçou. Não para acumular vitórias pessoais, mas para continuar sua missão: lutar pela justiça social.

Tornou-se presidente da República do Uruguai e, ao contrário do que muitos fariam, não se enfeitou do cargo. Preferiu uma casa simples, com infiltrações e rachaduras, onde muitos não se atreveriam a dormir uma noite. Diziam que era uma tapera. Ele respondia com a verdade: liberdade não é consumir — é não ser escravo do consumo.

Chamaram-no de “o presidente mais pobre do mundo”. Ele sorriu. Porque sabia que pobreza é carecer de afeto, de princípios, de coerência — não de bens. Mujica foi rico de ideias, de coragem e de humanidade. Um pensador de uma era em crise de sentido.

Disse que a política é necessária não porque somos deuses, mas justamente porque não somos. Porque somos falhos. E é essa consciência que deve nos mover: governar não é dominar, é conter nossos próprios defeitos e servir ao bem comum.

Para ele, a polarização — que tanto contamina nosso tempo — não esclarece: paralisa. Não constrói: confronta. E quando tudo vira guerra, ninguém vence.

Aos que acham que se gasta muito com política social, ele respondia com beleza: “Triunfar na vida é cair e saber levantar. É ter coragem de recomeçar.”

Em seu discurso de despedida, há sete meses, falou com a serenidade de quem viveu intensamente: “Estou pronto para partir.” E partiu — não apenas como ex-presidente, mas como um homem livre. Polido, simples e franco até o fim.

Pepe Mujica foi um dos grandes pensadores da nossa era. E seu legado, como ele mesmo, não precisa de palácios: está plantado no coração de quem acredita que a política pode — e deve — ser um ato de amor.