Técnica ou Política: equilíbrio para não ser "mutilado" no primeiro ano de mandato

Os últimos ajustes para os novos mandatos de 2025 estão em andamento. Prefeitos eleitos trabalham febrilmente na montagem de seus secretariados, buscando equilibrar acordos políticos e exigências técnicas.

Lisdeili Nobre

12/28/20242 min read

Os últimos ajustes para os novos mandatos de 2025 estão em andamento. Prefeitos eleitos trabalham febrilmente na montagem de seus secretariados, buscando equilibrar acordos políticos e exigências técnicas. É um jogo de xadrez delicado, no qual cada peça precisa ocupar a posição certa no tabuleiro. Nesse contexto, uma regra de ouro paira como um mantra: seguir a cartilha.

Essa cartilha não é apenas um manual informal. É a tradução do plano de governo, que precisa deixar de ser apenas promessa e se transformar em realidade. Não adianta encher a campanha de palavras bonitas se, ao assumir o cargo, as ações não gerarem emprego, renda, educação e saúde. E tudo isso, é claro, precisa estar respaldado pelo rigor legal.

No equilíbrio dos pratos, nenhum político, por mais habilidoso que seja, consegue executar bons projetos apenas com sua visão política. Da mesma forma, nenhum técnico, por mais capacitado, consegue transformar ideias em ações concretas se não tiver entendimento das nuances políticas e sociais que permeiam a gestão pública.

É inegável: políticos e gestores precisam caminhar juntos. O gestor técnico precisa de um olhar político que lhe permita perceber as necessidades da comunidade para além dos números e relatórios. Sensibilidade para escutar, ponderar e, sobretudo, negociar, é essencial em um sistema que exige constante articulação.

Por outro lado, o político precisa compreender que uma gestão puramente baseada no jogo de interesses ou na popularidade momentânea pode até surtir efeito no curto prazo, mas muitas vezes compromete o futuro. O cidadão não pode ser refém de soluções paliativas ou de medidas populistas que ignoram os impactos a longo prazo.

O primeiro ano de mandato é sempre um divisor de águas. É quando o novo prefeito precisará provar que sua gestão tem capacidade técnica e habilidade política para colocar o plano de governo em prática. Qualquer vacilo nesse período pode trazer um preço alto: a desconfiança da população e, pior, de seus aliados.

Por isso, prefeitos e prefeitas devem entrar no mandato com olhos atentos e pés no chão. Cada escolha precisa ser criteriosa, e cada decisão, planejada. A formação de um bom secretariado, que contemple tanto os aspectos técnicos quanto os políticos, é a chave para evitar os "alvoroços" — aquelas confusões administrativas que minam a credibilidade do governo.

Como disse Aristóteles, o homem é, por natureza, um ser político. A gestão pública existe porque a sociedade precisa de organização, e essa organização depende de líderes capazes de unir técnica e política.

Entre erros e acertos, é preciso lembrar que nenhum gestor está acima das regras que regem a administração pública. Aqueles que ignoram o equilíbrio necessário entre técnica e política podem até se considerar "sobre-humanos" ou intocáveis, mas logo o peso da realidade legal e regulamentar os coloca em seu devido lugar.

No final, é o equilíbrio desses dois mundos que define o sucesso de um governo. Uma gestão que compreenda essa dinâmica estará não apenas preparada para enfrentar os desafios do mandato, mas também para deixar um legado significativo para a sociedade que representa.

Lisdeili Nobre
Delegada de Polícia, Mestre em Gestão Pública, Professora de Direito, CEO da Afirmativa Consultoria, Especialista em Gestão Pública, Doutoranda em Políticas Sociais e Produtora das Produções de Áudio e Vídeo de Educação Política da TVi.