Saúde e Política: Uma Crônica de Itabuna

A crônica retrata os desafios enfrentados pelo sistema de saúde de Itabuna, destacando a necessidade de uma gestão pública eficiente e integrada entre as cidades do polo de saúde, criticando a falta de colaboração e o uso de soluções temporárias pelos gestores locais.

Lisdeili Nobre

6/24/20242 min read

Era uma vez, numa cidade chamada Itabuna, um lugar que pulsa ao ritmo de suas gentes e das promessas dos políticos. Ali, entre as ruas movimentadas e os bairros não tão tranquilos, há uma constante pergunta: cadê a saúde pública? Ela deve acontecer conforme os critérios eleitorais ou pela saúde popular?

Vamos voltar no tempo, para 2014, quase dez anos atrás. Foi quando as antigas Dires deram lugar aos Núcleos Regionais de Saúde (NRS). Itabuna, com seu espírito acolhedor, por lei, tornou-se o coração de um polo de saúde que batia por 22 municípios, cuidando de mais de meio milhão de almas. Imaginem só, 532.999 pessoas contando com essa estrutura.

Mas o tempo passa, as administrações não mudam, e a responsabilidade de gerenciar tudo isso vai passando de mãos em mãos. Os prefeitos e vereadores que assumiram há quatro anos deveriam saber dessa história, sabem que Itabuna é uma microrregião da saúde.

Quem é gestor público sabe que o Sistema Único de Saúde, nosso SUS, vem se transformando e caminha para uma gestão descentralizada. As micro e macro-regiões foram surgindo, cada uma com seus desafios e peculiaridades. Contudo, algo ainda parece estar fora do lugar. Cadê o trabalho de equipe das prefeituras? Cadê os consórcios? Cadê as parcerias? Gente de 22 municípios virem para Itabuna não é acaso, é para organizar o sistema de saúde.

Obras de finais de mandato, os paliativos mutirões, aqueles eventos festivos de saúde, são anunciados como grandes soluções. Mas será que resolvem mesmo? Não passam de band-aids em feridas profundas. A demanda reprimida de saúde persiste, porque a verdadeira demanda reprimida é por gestão pública eficiente, e isso não se resolve com eventos temporários.

E assim, seguimos, com prefeitos que não sabem trabalhar em equipe, que não conseguem garantir os investimentos necessários para integrar a atenção à saúde. Mestres na arte da ilusão, muitos gestores deixam a ampliação de hospitais e a reforma de unidades de saúde para o fim do mandato, alegando que precisam de mais quatro anos para concluir o que deveria ter sido feito desde o início. Esquecem que a ampliação de leitos e a infraestrutura hospitalar não são medidas pela bondade do coração do gestor, mas pela densidade demográfica e pela capacidade instalada pública dos municípios.

A crônica da saúde em Itabuna poderia ser diferente. Poderíamos ter uma história de sucesso, de gestores que entendem a importância da integração dos serviços, que não usam crises naturais ou de saúde como desculpas, mas sim como oportunidades para melhorar. Que sabem que a transparência e a participação da comunidade são essenciais.

E assim, termina nossa crônica, não com um ponto final, mas com reticências, esperando que o próximo capítulo seja escrito com mais sabedoria e compromisso. Porque Itabuna merece. E seu povo, mais ainda.