O exorcismo da vassoura-de-bruxa: O cacau e o novo tempo.

Os ventos mudaram, mas os esqueletos dos secretários de agricultura ainda precisam se mexer. O cacau, outrora tratado como ouro do sul da Bahia, precisa deixar de carregar o peso de um passado sombrio.

Lisdeili Nobre

2/18/20252 min read

Os ventos mudaram, mas os esqueletos dos secretários de agricultura ainda precisam se mexer. O cacau, outrora tratado como ouro do sul da Bahia, precisa deixar de carregar o peso de um passado sombrio. A vassoura-de-bruxa não foi apenas uma doença—foi uma assombração que drenou energia, esperança e dinheiro dos agricultores. Décadas se passaram, e o fantasma ainda ronda as terras cacaueiras. Mas há um novo tempo batendo à porteira.

Engenheiros agrônomos e especialistas, com suas pranchetas e experiência, avisam: o cacau pode brilhar novamente. E não é só discurso de pesquisador. Em 2024, a arroba do cacau disparou, atingindo um recorde de R$ 896,10 em julho. A razão? O mundo está carente de cacau. A natureza castigou Gana e Costa do Marfim, os dois gigantes da produção global, e o Brasil—especialmente a Bahia—está diante de uma oportunidade dourada (ou melhor, marrom escuro e brilhante, como um bom chocolate).

Mas a cacauicultura ainda carrega traumas e, sejamos francos, foi abandonada por muito tempo. O setor precisa de um banho de tecnologia, um choque de gestão, um olhar renovado sobre suas possibilidades. Consultorias especializadas, modernização das técnicas agrícolas, incentivos estruturados—tudo isso pode transformar a realidade dos produtores.

A China e a Índia descobriram o prazer do cacau, e a demanda global não para de crescer. Mas não basta a terra ser generosa; é preciso que os gestores públicos saiam da inércia. Incentivos, fomentos, políticas bem estruturadas para fortalecer os pequenos e médios produtores são fundamentais. Prefeitos da região, alô! Está na hora de aprender a consorciar serviços, unir forças e transformar a cacauicultura em uma alavanca de desenvolvimento sustentável.

E por falar em inovação, já provou um drink de mel de cacau? Esse fruto, além de ser a base do chocolate, abre um leque de oportunidades: turismo, gastronomia, cosméticos e, quem sabe, o motor de uma nova economia para o sul da Bahia. Mas, para isso, é preciso deixar para trás a roda da lamentação e olhar para o futuro. O ouro-marrom está ali, reluzindo. Resta saber quem terá coragem de pegá-lo de volta.

Sobre a Autora

Lisdeili Nobre é doutoranda e mestre em Políticas Públicas, especialista em Planejamento de Cidades, docente de Direito, cronista, delegada de polícia, produtora e roteirista de TV. Sua experiência une o olhar acadêmico e a prática em desenvolvimento de políticas para abordar temas relevantes da sociedade, cultura e economia.