Não São Seres Primitivos. São Mulheres que Rompem Silêncios

Nós, mulheres, somos herdeiras de uma história de luta e resistência. As palavras que escrevemos não são apenas tinta no papel; são armas contra uma sociedade que ainda tenta nos reduzir a sombras de um passado que não aceitamos carregar.

Lisdeili Nobre

12/15/20242 min read

As letras não podem ser grades de uma cela onde gritos de socorro apodrecem sem ecoar. Não somos seres primitivos. Nós, mulheres, somos herdeiras de uma história de luta e resistência. As palavras que escrevemos não são apenas tinta no papel; são armas contra uma sociedade que ainda tenta nos reduzir a sombras de um passado que não aceitamos carregar.

Ontem , pensei em Leila Diniz, que se recusava a ser aprisionada pela moralidade hipócrita de seu tempo. Sua escrita era como uma bomba: detonava silêncios e enfrentava o “homem padrão”, aquele ser que insiste em manter o controle sob a justificativa de tradição. Mas não somos seres primitivos . Não voltaremos para o estado de submissão onde esperam que fiquemos.

Ontem , Conceição Evaristo veio à minha mente, com suas palavras que cortam como lâminas. Suas histórias expõem as feridas abertas de um sistema que tenta silenciar as mulheres negras, como se fossem invisíveis. Evaristo nos lembra: não somos seres primitivos. Temos voz, e nossas letras não podem ser confinadas às margens.

Ontem falou no meu coração Audre Lorde, ecoando em meu pensamento com seu poema “Power”. Suas palavras são um desafio direto à injustiça racial e à violência que insiste em nos chamar de frágeis. Sua escrita grita: não somos seres primitivos. Somos força, somos poder, e não há sistema que apague nossa luta por justiça.

Ontem entrei no quarto com Carolina Maria de Jesus. Sua obra “Quarto de Despejo” não é um pedido de desculpas por existir; é um grito cru e corajoso contra a crueldade estrutural. Ela nos lembra que a pobreza e a violência são ferramentas para nos manter em um ciclo de sofrimento. Mas Carolina, como tantas outras, nos mostra que não somos seres primitivos. Somos sobreviventes, e nossa luta é contra as correntes invisíveis que tentam nos aprisionar.

Tive insônia com Hilda Hilst. Sua poesia inquietante cavava traumas que muitos prefeririam esquecer. Suas palavras confrontam o “homem padrão”, aquele que insiste em coisificar nossos corpos e minimizar nossas dores. Hilda grita o que todas sabemos: não somos seres primitivos . E é por isso que não vamos nos calar.

Amanheci falando que cresci ouvindo minha mãe cantar “Maria da Vila Matilde”, de Elza Soares. Aquela canção, um grito contra a violência doméstica, ressoava como uma verdade absoluta: não somos seres primitivos. Não aceitaremos mais mãos levantadas, silêncios impostos ou justificativas moralistas para o abuso.

Hoje de manhã, canto com minhas filhas Maria e Ana “Dona de Mim”, de Iza. Juntas, celebramos o direito de sermos protagonistas de nossas histórias. Mas enquanto houver mulheres sendo silenciadas, lembremos: nossas letras são armas, nossas vozes são ecos, e nossa luta é contínua.

Ah, espera aí entre letras! Será que ouvi isso? Não somos seres primitivos! Não voltaremos para as cavernas onde esperam que nos acomodemos em silêncio. As letras que escrevemos são tochas que iluminam o caminho para a liberdade. E quem insiste em nos oprimir descobrirá que nossas palavras não são grades – são explosões, são revoluções.

Que nunca mais sejamos aprisionadas. Porque não somos seres primitivos. Somos mulheres, escritoras. Respeita.

Lisdeili Nobre