Não olhe para cima 2: Com Donald Trump

Era um dia que os livros de história talvez chamassem de "apoteótico", mas que podemos carimbar como cópia malfeita de uma distopia da Netflix: “Não olhe para cima - Parte 02”. Donald Trump estava de volta à Casa Branca, e sua posse parecia a premiêre de um blockbuster, com direito a tapete vermelho.

Lisdeili Nobre

1/21/20253 min read

Era um dia que os livros de história talvez chamassem de "apoteótico", mas que podemos carimbar como cópia malfeita de uma distopia da Netflix: “Não olhe para cima - Parte 02”.

E o filme acontecia assim: Donald Trump retornava triunfante à Casa Branca, e sua posse se desenrolava como a premiêre de um blockbuster hollywoodiano, com direito a tapete vermelho. Na posse, uma série de drones formava o rosto do presidente no céu (ou era um cometa? Difícil dizer), mas acompanhava da frase "NÃO OLHE PARA CIMA" estampada em letreiros luminosos espalhados por Washington.

O grande discurso começou com Trump apontando para o céu e declarando: “Está tudo bem! Esse brilho ali é apenas o reflexo do meu sucesso, nada para se preocupar.” Ao fundo, o magnata de Big Tech Elon Musk, como profeta tecnológico da humanidade, acenava com um pequeno foguete em miniatura, prometendo que, se algo desse errado, ele já tinha passagem marcada para Marte e vagas para os 100 mais ricos da lista da Forbes, com primeira classe garantida para todos os magnatas de Big Tech. Para os que Musk ainda considera mortais, ele sugeriu com um sorriso confiante: "Para vocês que vão ficar na Terra, por que não compram o novo Tesla blindado com Wi-Fi de 5ª geração?""

Na bancada de honra, Melania Trump roubava a cena com um chapéu que parecia ter sido projetado para bloquear qualquer tipo de luz solar, talvez para não enxergar certas verdades inconvenientes ou para esconder aquilo que ela realmente pensa. "Olhos são as janelas da alma", comentou André Trigueiro, enquanto o resto do mundo debatia se aquele acessório era uma releitura fashion da burca ou uma mensagem subliminar para alienígenas.

O ponto alto foi o pronunciamento bombástico de Trump sobre o meio ambiente. Ele anunciou, em tom triunfante: “Deixo claro que os EUA estão oficialmente se retirando do Acordo de Paris e da OMS, possivelmente COP 30, e, se for necessário, da própria Terra! Antes disso, vou congelar tratados bilaterais, colocar em alta o termômetro das taxas de produtos importados e, de quebra, pretendo tomar o canal do Panamá. Vamos passar um tempo fechados para balanço na bolha do sonho americano. Afinal, quem precisa de um planeta Terra quando temos Marte?” A plateia explodiu em aplausos, liderada pelos magnatas do Google e Meta, enquanto Musk fazia um gesto que muitos interpretaram como um tique nervoso, mas que alguns juram ter sido uma saudação nazista mal disfarçada.

Sem falar, que deu largada para a caça às bruxas (mulheres), aos imigrantes e à população LGBTQIA+, limitando direitos e promovendo critérios absurdos de pureza racial.

Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, no Brasil, um comentarista da TV resumiu o cenário com amargura: “É como no filme. O cometa está vindo, e o que fazem? Uma festa. Isso aqui é reality show em escala planetária, e nós somos os figurantes.”

Na cerimônia, uma mistura de talk show barato e reality show caro, todos os clichês estavam presentes: famílias disfuncionais fingindo harmonia, discursos recheados de frases de efeito e, claro, memes ao vivo. O microfone aberto capturou um assessor dizendo: “Se o mundo acabar agora, pelo menos teremos os melhores memes da história.”

À medida que a festa se aproximava do fim, um grupo de cientistas tentava entrar no Capitólio alertando para efeitos climáticos: a Flórida está pegando fogo!!! Trump, ao saber da tentativa, apenas riu e disse: “Nós temos Elon Musk e temos dinheiro. Quem precisa de cientistas?” E assim, a multidão continuou dançando sob drones coloridos enquanto, em algum lugar no horizonte, o cometa brilhava mais forte.

No final, o presidente ergueu as mãos e bradou: “Não olhem para cima. Olhem para mim. Eu sou o seu futuro, agora a civilização está segura.” E foi ovacionado.

Se o planeta estivesse prestes a explodir, pelo menos faria isso em grande estilo. Com chapéus icônicos, foguetes a postos e uma plateia dividida entre selfies e preces. Porque, no fim das contas, como diz o ditado, quem ri por último é quem tem sinal de Wi-Fi no apocalipse.

Esta é uma crônica humorística que faz alusão à posse do presidente Donald Trump, combinando ficção e realidade em um cenário distópico e absurdo.

Texto de Lisdeili Nobre. Cronista e observadora da sociedade, Lisdeili Nobre se destaca por suas narrativas que misturam humor, ironia e uma análise profunda das contradições humanas.