Entre Festa e Governo: ItaPedro 2024 e o Dilema das Prioridades Municipais
ItaPedro 2024 ilumina Itabuna com festividades vibrantes, mas levanta questões críticas sobre a alocação de recursos municipais em meio a desafios sociais persistentes..
Lisdeili Nobre
6/24/20242 min read


Entre os dias 27 e 30 de junho, a cidade de Itabuna se transformou em palco para o ItaPedro 2024, uma celebração emblemática de São Pedro, repleta de música e alegria na Arena Zé Cachoeira, no Banco Raso. Este ano, o evento foi um dos maiores já realizados, com mais de 38 atrações, incluindo grandes nomes como Solange Almeida, Hugo e Guilherme, Leo Santana, Gusttavo Lima, Joelma e Ivete Zangalo. A festa, sem dúvida, foi um dos pontos altos do calendário cultural da cidade, atraindo milhares de visitantes e movimentando a economia local temporariamente.
Este fenômeno não foi exclusivo de Itabuna. Em todo o estado da Bahia, prefeitos aumentaram significativamente os gastos com artistas para os festejos de São João em um ano eleitoral. Cidades baianas gastaram um total de R$ 364 milhões com a contratação de artistas para 3.356 apresentações no período junino, com uma média de R$ 108 mil por apresentação — valor que é mais que o dobro do registrado em 2023.
Agora que os ecos dos últimos acordes se dissiparam, é tempo de reflexão sobre as prioridades de gestão municipal. Em meio ao esplendor das celebrações, surgem interrogações cruciais: será que a política habitacional está recebendo a atenção devida para garantir moradia digna a todos? Observa-se um ciclo vicioso de pobreza e desemprego que ainda prende muitos jovens nas armadilhas do tráfico de drogas. Pode-se questionar, então, se a educação está sendo priorizada o suficiente para romper essas correntes. Na área da saúde, os postos de saúde estão operando com a eficiência necessária, ou falta investimento constante em infraestrutura e insumos? E quanto à política ambiental, ela é robusta o suficiente para sustentar o rio Cachoeira e promover o saneamento adequado da cidade? Estas questões, muitas vezes eclipsadas pela grandiosidade das festividades, demandam uma reflexão profunda sobre onde e como os recursos públicos estão sendo aplicados.
O investimento em grandes festividades é justificável quando as contas da cidade estão em superávit e quando as necessidades básicas da população estão sendo atendidas com excelência. O desafio está em balancear a diversão e a necessidade, garantindo que enquanto celebramos também estamos construindo uma cidade melhor para todos os seus habitantes.
ItaPedro foi, sem dúvida, uma festa pública merecida e uma oportunidade de celebrar a cultura e as tradições locais. Contudo, é imperativo que os gastos com tal evento não ofusquem as carências mais prementes da cidade. Agora que a festa acabou, a pergunta que fica é: você gastaria tanto em uma festa, sabendo das numerosas necessidades ainda não atendidas?
Este é o dilema que Itabuna e outras cidades da Bahia enfrentam: garantir que a alegria efêmera dos festejos juninos não desvie o foco das realizações permanentes que garantem o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida de sua população.