Cadê o Cacau, China Quer!
Era uma vez um ovo de Páscoa. Brilhoso, cheiroso, caro. Muito caro. Mas... cadê o cacau? Você morde, espera aquele amarguinho elegante, a dança dos sabores, o alimento dos deuses... e o que vem é gosto de gordura com corante. E aí a gente se pergunta: será que o coelhinho trocou o cacau por margarina?
CACAUCHINA
Lisdeili Nobre
4/19/20252 min read


Era uma vez um ovo de Páscoa. Brilhoso, cheiroso, caro. Muito caro. Mas... cadê o cacau?
Você morde, espera aquele amarguinho elegante, a dança dos sabores, o alimento dos deuses... e o que vem é gosto de gordura com corante. E aí a gente se pergunta: será que o coelhinho trocou o cacau por margarina?
O cacau, essa joia da natureza que começou sua história há mais de três mil anos na bacia amazônica, era usado pelos maias e astecas em rituais sagrados. Depois, foi seduzido pelos europeus, virou chocolate com açúcar e manteiga e nunca mais saiu da boca — literalmente — da humanidade.
Hoje, quem segura mais da metade da produção mundial são Gana e Costa do Marfim. E a gente aqui, no sul da Bahia, com o pé na roça e o olho na exportação. Depois de trinta anos da maldição da vassoura de bruxa, nosso cacau ainda tenta se reerguer com dignidade, apesar das mudanças climáticas, das chuvas fora de hora, das secas tortas e das pragas que não tiram férias.
E no meio disso tudo... plim, a China começa a comer mais chocolate. Sim, aquele mercado que adora uma novidade, agora quer chocolate no café, na sobremesa e talvez até no yakissoba. E a pergunta que grita é: estamos prontos para vender cacau para os chineses se nem damos conta do mercado interno?
A produção baiana até respira: crescemos 5% ao ano, temos tecnologias, temos potencial de transformar áreas degradadas em agroflorestas cheias de vida e aroma de cacau. Mas ainda somos o sexto produtor nacional e temos que importar para suprir a demanda. Ou seja, tem mais cacau vindo de fora do que da nossa terra.
Então, meus caros, enquanto o mundo pergunta “onde está o cacau?”, nós respondemos com outra pergunta: cadê o incentivo, a organização, o fomento à tecnologia para fazer do sul da Bahia a nova potência do chocolate mundial?
Porque se o coelhinho da Páscoa ficou devendo cacau no ovo desse ano, talvez esteja na hora da gente parar de procurar no mercado e começar a produzir com força, orgulho e estratégia.
A China quer cacau. A gente tem história, terra e talento. Só falta acreditar que o alimento dos deuses pode, sim, salvar a economia — e adoçar a vida de quem planta, colhe e sonha.