Amigos? Que nada! A política segue o poder
Na política, afeto tem prazo, amizade tem preço e o poder… ah, o poder é quem dita o roteiro.
Por Lisdeili Nobre
8/3/20251 min read


Das crônicas de Machado de Assis às entrelinhas de Carlos Drummond de Andrade, a ultrassonografia do universo político revela sempre o mesmo diagnóstico: tudo gira ao redor do poder. É ele quem pulsa, quem movimenta os corpos, quem dá rumo à maré. Como rio que corre pro mar, não tem DNA, sobrenome ou laço de sangue que segure. Vai tudo junto: irmão, compadre e aquele amigo de infância que jurou lealdade eterna — atropelado sem pedir licença.
Na arena política, não tem amizade certa. Tem leão faminto. E o cardápio é sempre o mesmo: espaço de poder ou a sua manutenção. A turma entra sorrindo, de toga ou de paletó, mas no fundo, a alma é gladiadora. Sangue, suor e voto. Aqui, vínculo só dura enquanto for útil — e pode até ter recaídas, claro. Desde que a recaída venha turbinada: cargo, visibilidade, ou pelo menos um cafezinho com quem assina a verba.
Porque no fim das contas, o combustível que sustenta qualquer relação é simples: a energia do poder. Eu ajudo quem me ajuda. Se me ofusca, não brilha comigo. E se não brilha comigo, enfraquece a amizade. O afeto é frágil. A fidelidade é interesseira. E ambas têm o DNA do poder, não do coração.
É novela das 8, minha gente — mas sem mocinho. Um “Vale Tudo” em que ética e moral aparecem no capítulo de estreia e somem no segundo bloco. No lugar delas, o que impera é o autoritarismo disfarçado de liderança, e o bajulador cego com esperança de ser promovido de bobo da corte a comandante do exército.
Se tem afeto na política? Tem. Mas só até a próxima eleição. Depois disso, só vale quem soma.