AINDA ESTAMOS AQUI

QUE BOM, que lindo, que justo: viva o nosso cinema brasileiro! Essas indicações ao Oscar são também sussurros da história em nossos ouvidos, lembrando o que precisamos ouvir e nos convocando a reparar os horrores de uma ditadura militar.

Lisdeili Nobre

1/26/20252 min read

QUE BOM, que lindo, que justo: viva o nosso cinema brasileiro! Essas indicações ao Oscar são também sussurros da história em nossos ouvidos, lembrando o que precisamos ouvir e nos convocando a reparar os horrores de uma ditadura militar. Hoje, sem censura, exibido com força, o passado vem à tona, trazendo vozes que se recusam a permanecer no esquecimento. Por mais que se imponha uma espécie de “amnésia” impulsionada por fake news, nós estamos aqui e não esquecemos. Por isso, assumo meu compromisso diário com a educação política, preservando memórias e fomentando a cidadania.

Hoje, nosso roteiro é escrito pelas mãos de quem ousa dizer “não” quando o silêncio ainda nos é imposto.

Além da magnífica Fernanda Torres, lembramos de Eunice Paiva, que insistiu na busca pela verdade em meio a salas escuras, movida pelo amor e pela justiça. De Elis Regina, que cantava com alma tão intensa que toda a dor, a esperança e a rebeldia transbordavam em sua voz. De Zuzu Angel, que transformou a moda num grito de denúncia, mesmo em meio ao luto. De Miriam Leitão, presa injustamente, mas firme na convicção de informar e jamais silenciar. De Dilma Rousseff, que enfrentou interrogatórios e torturas, sem nunca renunciar ao sonho de democracia.

E, numa celebração que extrapola fronteiras, recordamos Fernanda Torres, símbolo vivo de nossa arte, premiada mundo afora, que traduz o rosto e a voz do Brasil em múltiplas telas. Quando o Oscar aparece em cena, destacando o que há de melhor, é impossível não pensar em quantas vezes nosso cinema e nossa cultura já brilharam, denunciando injustiças, celebrando resistências e construindo narrativas de esperança.

Essas mulheres nos lembram que há uma ferida aberta na história do Brasil, uma página repleta de nomes varridos para debaixo de tapetes empoeirados — pessoas perseguidas, coagidas, torturadas. São histórias de quem perdeu familiares, amigos e a própria liberdade. Porém, continuamos a pulsar, a mover as engrenagens da justiça e a chamar a atenção das novas gerações para a importância da verdade.

Cada passo que damos, cada palavra que registramos, é uma forma de manter viva a memória e, com ela, a cidadania. Educar, informar e dialogar sem medo são maneiras de dizer que a luta de outrora não foi em vão. São também formas de impedir que a censura e a opressão voltem a assombrar as ruas e praças do país.

Como num grande filme indicado ao Oscar, essas trajetórias representam o “melhor” de nossa humanidade: coragem, insistência e uma profunda conexão com a liberdade. E assim seguimos: celebrando quem ousou enfrentar a escuridão e nos deixou uma herança de democracia.

Que as vozes de Eunice, Elis, Zuzu, Miriam, Dilma, Amelinha, Fernanda Torres e tantas outras ecoem hoje e sempre, lembrando que a verdade não se apaga. Enquanto houver memória, haverá luz — e haverá quem se junte para gritar, em alto e bom som, que não esquecemos.