A ISCA, O ANZOL E O PESCADOR

No mar de tubarões ávidos pelo poder, os peixes mordem a isca pendurada no anzol da necessidade. O tradicional peixe consumido no período chamado de semana santa, que antecede o domingo de páscoa, é um hábito comum entre os cristãos de diversas religiões.

Larissa Araújo

4/17/20252 min read

No mar de tubarões ávidos pelo poder, os peixes mordem a isca pendurada no anzol da necessidade. O tradicional peixe consumido no período chamado de semana santa, que antecede o domingo de páscoa, é um hábito comum entre os cristãos de diversas religiões. Na sexta-feira da paixão, o peixe é um item bastante considerado na refeição, no entanto, vale ressaltar, que atualmente, devido ao aumento absurdo dos preços alimentícios, principalmente dos que compõem a cesta básica, está cada vez mais difícil prover uma alimentação diversificada, a maioria dos brasileiros estão vivendo em situações de insegurança alimentar, uma crise econômica e social que afeta diretamente na qualidade de vida da população.

Mas, no que tange às práticas de assistencialismo no País, a distribuição dos peixes nessa época do ano, ocorrem através das secretarias de assistência social, provenientes de programas do governo, ou seja, verba pública convertida em ações que priorizam famílias de baixa renda, geralmente cadastrados em outros auxílios. Esse benefício é concedido dentro de critérios específicos, e apesar de ser uma prática comum na administração pública, é evidenciado como um ato político de grande relevância, servindo de marketing eleitoral para quem goza de um mandato e busca a aprovação de uma gestão.

Na escassez, toda ajuda é considerada bem vinda por quem mais precisa, e a fome é um grande desafio para a humanidade. Um povo faminto de comida e também de dignidade, não consegue pensar politicamente e avaliar o desempenho dos representantes que são eleitos, sabendo disso, torna-se fácil para os aproveitadores, através das mazelas sociais, manipular as vítimas da pobreza, então aquilo que é direito do cidadão, passa a ser visto como um ato de generosidade de quem lhe oferece aquilo que é necessário, aliás, o sentimentalismo é uma poderosa ferramenta de controle e domínio sobre as classes mais carentes em suas demandas fundamentais, por meio desse mecanismo perde-se a capacidade de racionalizar e o comportamento da coletividade é condicionado a um estado de reação emocional.

Num mar onde os tubarões estão sempre de barriga cheia e os peixes cada vez mais famintos, o anzol parece ser uma alternativa para não se tornarem iscas dos ferozes, mas na verdade é uma armadilha que também as prende facilmente, com destino a morte. Para o pescador (trabalhador), o importante é saber tecer sua própria rede, ter condições de lançar ao mar e prover seu próprio sustento, sem a dependência daqueles que se consideram donos dos mares.

Parafraseando duas grandes citações: "O mar não tá pra peixe" mas, "Navegar é preciso", em outras palavras... Embora não seja fácil para muitas pessoas que acreditam em políticas públicas efetivas, desistir de lutar por uma política de melhor qualidade não é uma opção, a persistência de quem pode contribuir nesse cenário faz a diferença!