A Gelatina Multicolorida das Eleições Municipais
A mistura de alianças políticas nas eleições municipais, formada sem coerência ideológica e guiada por pesquisas, cria uma "gelatina multicolorida" que pode resultar em confusão para os eleitores e enfraquecer a democracia.
POLARIZAÇÃO
Lisdeili Nobre
10/24/20242 min read


As eleições municipais seguem refletindo a polarização das últimas eleições presidenciais, mas agora, em vez de um cabo de guerra entre dois lados firmemente opostos, temos uma verdadeira salada de gelatina, com todos os sabores e cores misturados. Tinha município azul, verde, laranja, vermelho… tudo na mesma coligação. Foi quase uma festa de arco-íris político, onde ninguém mais sabia exatamente onde começava um partido e terminava outro. Alianças antes improváveis, foram formadas com base em pesquisas secretas de intenção de voto, o que substituíram a coerência ideológica. No cardápio, temos uma gelatina que balança, mas será que firma até o final do mandato? E seus sabores são difíceis de identificar.
Lideranças que até ontem defendiam com unhas e dentes suas bandeiras partidárias agora parecem mais preocupadas com outra coisa: votos. E não qualquer tipo de voto, mas aqueles que as pesquisas apontam como decisivos. O resultado? Palanques onde a ideologia virou uma questão secundária, e o foco está em encher o prato com votos suficientes para garantir a vitória. O que antes era uma luta por ideias agora parece um jogo de números, em que o que conta não é mais o que se propõe para a cidade, mas sim o que as pesquisas dizem sobre quem tem mais chances de ganhar. A política virou uma verdadeira sopa de cores, onde partidos que antes nem se olhavam agora se abraçam em nome de alianças que prometem tudo, mas não garantem nada.
Esse cenário de coligações coloridas pode parecer estratégico, mas a prática de "juntar panelas" para vencer a eleição tem seu preço. Pode causar uma indigestão democrática, com partidos menores sendo engolidos pelas coligações maiores como aperitivos fáceis. Os pequenos, que antes defendiam causas específicas ou nichos eleitorais, agora se veem pressionados a unir forças com aqueles que os sobrepujam. É quase uma dinâmica natural, como na vida selvagem, em que os grupos maiores unem suas forças para garantir a sobrevivência e, no processo, fazem um lanche dos mais fracos.
Para o eleitor, que antes conseguia identificar com clareza quem estava de um lado e quem estava do outro, essa mistura de cores e sabores gera confusão. Afinal, aquele político que sempre defendeu o verde agora realmente acredita no azul ou foi apenas uma conveniência passageira? E aquele que prometia mudanças estruturais no vermelho, agora se vê em palanques laranja. O eleitor olha para essa salada de gelatina e se pergunta: será que essas alianças duram até o fim da eleição ou vão desmanchar durante o mandato?
No fim, o que temos é uma mistura política que não é fácil de digerir. Resta ao eleitor escolher qual sabor dessa gelatina eleitoral vai engolir, torcendo para que, após o banquete das urnas, ainda haja democracia suficiente para que todos possam voltar à mesa e discutir como reconstruir o que ficou perdido entre uma coligação e outra. As panelas podem até se juntar em nome da vitória, mas a receita para a democracia precisa ser firme, ou o que sobra é uma gelatina sem gosto que ninguém quer comer.